Planeta dos macacos: uma reflexão

Nei Nordin

O filme “Planeta dos macacos: o confronto”, lançado em 2014 e dirigido por Matt Reeves, apesar de uma obra de ficção fornece elementos interessantes e incômodos para que possamos traçar uma analogia com a realidade da trajetória humana.

Minha leitura é de que o filme demonstra o quão frágil são os nossos elos de sociabilidade e civilidade. Ao término da sessão vi reforçada minha convicção de que a “vitória” humana na corrida pela evolução trouxe um custo alto demais para todas as formas de vida no planeta. Enquanto seres mais inteligentes, os humanos empreenderam conquistas incríveis em todos os campos. Estabeleceu-se como ser supremo e conquistou todos os espaços do globo, subjugou e explorou todas as espécies. Ergueu arranha-céus, construiu máquinas que voam, mergulham e multiplicam infinitamente sua força e velocidade.

Planeta dos macacos 03Somos indiscutivelmente os seres mais inteligentes do planeta, o que não significa que sejamos férteis em sabedoria. Somos igualmente capazes de matar e destruir em escala planetária e não necessariamente pela sobrevivência, mas sim pelo ódio e ganância. Nenhuma outra espécie possui, como nós, a faculdade de mentir, trair ou exterminar. Nenhum outro bicho conhece a motivação do ódio, preconceito, xenofobia ou lucro. Só o homem mata sem motivo ou por mero prazer de dar fim à vida ou apreciar o sofrimento alheio, mesmo que seja o de sua própria espécie.

Cumpre então indagar até onde a evolução nos levou ou no que ela nos transformou.

O filme Planeta dos macacos traça o enredo dos símios que evoluem, assumem consciência de sua condição e passam a rivalizar com os humanos na luta pela sobrevivência. Estes, atacados por um vírus mortal que vitimara quase toda espécie, precisam agora enfrentar a realidade de que não estão mais sozinhos no domínio da terra. Nos dois lados, existem mentes lúcidas que reconhecem necessidade de coexistência pacífica como condição para a sobrevivência mútua. Em contrapartida, em ambos os grupos estão aqueles tomados pelo ódio e predispostos a recorrer ao expediente da guerra para neutralizar o oponente. O filme nos dá a dimensão de o quanto o ódio é irracional, o quão assustadora é a capacidade humana de ódio motivado pelo medo, pela incerteza ou simplesmente pelo mero ódio.

O protagonista, Cesar, lidera os macacos com responsabilidade e consciência. Anseia por um futuro para sua espécie e sabe quantas vidas serão ceifadas no caso de uma guerra. Opta por um acordo de convivência e até presta auxílio aos humanos quando estes lhe procuram para que possam fazer funcionar a usina hidroelétrica que está em seu território. Pode ser considerado como um líder esclarecido que, apesar de ser um símio consegue pesar muito bem os prós e os contras de cada ação. Cesar demonstra mais humanidade que os humanos.

Planeta dos macacos 04O assustador da trama está na predisposição existente nos dois lados em iniciar a guerra e exterminar o inimigo. O macaco Koba, extremamente revoltado e raivoso pelas torturas que sofreu em cativeiro, questionará a liderança de Cesar e levará os macacos à guerra manipulando a verdade e semeando o ódio. Uma configuração discursiva dotada de verossimilhança que pode ser encontrada em qualquer das argumentações dos conflitos reais da atualidade (O que dizer do conflito Israel e Palestina, só para citar um exemplo?). Uma nova sociedade totalitária está em vias de ser concretizada, só que agora governada por macacos.

Humanos se comportando como animais e macacos se comportando com padrões de humanidade é o que podemos contemplar neste que é o melhor filme da franquia. Ficção sim, mas com forte conotação histórica. Planeta dos macacos: o confronto, toca na ferida da fragilidade de toda a civilização que construímos com nossa superioridade intelectual. O final, quando um dos personagens reconhece que a guerra é inevitável, nos deixa o que pensar.

Um filme que vale a pena assistir e que proporciona uma reflexão para além de seu conteúdo ficcional.

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