A História por trás da máscara

Nei Nordin

Em junho de 2013 o Brasil explodiu em manifestações de protestos. O furor popular surgiu espontaneamente deixando embasbacados os partidos e centrais sindicais. O que começou como protesto estudantil pelo preço da passagem assumiu proporções maiores. Movimentos que iniciavam com pretensões pacíficas logo tomaram a forma da violência e da depredação. Era o sinal de que um imenso país estava finalmente acordando. Ao menos era o que se pensava na época.

Em todas as capitais onde ocorriam manifestações um símbolo foi visto com freqüência na multidão: a máscara que ficou conhecida pelo filme “V de Vingança”, lançado em 2006 e dirigido por James McTeigue. A sinopse do filme, divulgada pelo site “Adoro Cinema” é a seguinte:

Em uma Inglaterra do futuro, onde está em vigor um regime totalitário, vive Evey Hammond (Natalie Portman). Ela é salva de uma situação de vida ou morte por um homem mascarado, conhecido apenas pelo codinome V (Hugo Weaving), que é extremamente carismático e habilidoso na arte do combate e da destruição. Ao convocar seus compatriotas a se rebelar contra a tirania e a opressão do governo inglês, V provoca uma verdadeira revolução. Enquanto Evey tenta saber mais sobre o passado de V, ela termina por descobrir quem é e seu papel no plano de seu salvador para trazer liberdade e justiça ao país.

O filme por sua vez foi inspirado numa revista de história em quadrinhos. O que pouca gente sabe é que a máscara em questão retrata um personagem real que se rebelou contra o governo da Inglaterra no século XVII. Seu nome era Guy Fawkes. Fawkes fez parte de uma conspiração para explodir o parlamento britânico em 1605. O objetivo era assassinar o rei Jaime I e iniciar um levante católico. Trinta e seis barris de pólvora foram estrategicamente colocados nas fundações do prédio. Tendo o plano malogrado, Fawkes foi preso e, junto com doze homens de seu grupo, condenado à forca por traição e tentativa de assassinato. O episódio foi conhecido como “Conspiração da Pólvora”.

Após a morte da rainha Elizabeth I em 1603, os católicos ingleses esperavam que a monarquia anglicana fosse um pouco mais tolerante com sua religião. Não foi exatamente o que ocorreu. Embora houvesse certa tolerância a um catolicismo muito discreto, medidas foram adotadas contra a religião e os puritanos fomentaram sentimentos de repressão e perseguição aos católicos.

Neste contexto um grupo de rebeldes optaram por medidas drásticas para dar um “basta” na situação. Seu líder era o carismático Robert Catesby que defendia ardentemente a posição de que a ação violenta era o único rumo a ser tomado. O grupo cresceu rapidamente até a inclusão de Guy Fawkes. Os insurgentes ao todo eram treze. Catesby achou que Fawkes seria uma boa aquisição ao grupo, pois conquistara fama atuando como mercenário na Espanha e na Holanda e era forte entusiasta da causa católica. Ele então rapidamente conquistou posições de confiança junto à Catesby. Coube a Guy Fawkes a tarefa de adquirir os barris de pólvora e posicioná-los em locais estratégicos nos porões do parlamento britânico.

Inicialmente, apenas Guy Fawkes foi preso e responsabilizado como único autor do atentado terrorista. Seu nome viria a se tornar sinônimo de traição em todos os lugares. Os demais conspiradores, incluindo Catesby, foram apanhados nos dias seguintes e sofreram torturas e execuções de maneiras terríveis.

O governo inglês serviu-se da Conspiração da pólvora para justificar sua política de repressão anti-católica. Os condenados a morte costumavam ser enforcados, arrastados e esquartejados publicamente como punição exemplar para incutir terror e inibir quaisquer iniciativas subversivas. Num período de grande instabilidade a Conspiração da Pólvora adquiriu grande notoriedade e tornou-se instrumento de comoção muito forte para a população da Inglaterra. Ainda hoje existe a tradição de que quando a rainha da Inglaterra faz sua visita anual ao parlamento, os porões da sede (Palácio de Westminster) devem ser verificados.

Na mesma noite do dia em que a conspiração foi frustrada (cinco de novembro), fogueiras foram acesas em Londres para festejar a segurança do rei. A data é conhecida até hoje como o Bonfire Night, evento caracterizado por fogos de artifícios e “malhação” de bonecos que representam Guy Fawkes, o papa católico e eventuais personalidades políticas do momento, a exemplo das atuais malhação de Judas. Durante o evento o boneco de Guy é jogado na fogueira. A comemoração ramificou-se para as colônias britânicas e ainda hoje podem ser encontradas em países como Nova Zelândia e Terra Nova, no Canadá.

Atualmente Fawkes (e a máscara) tornaram-se um símbolo de luta pela liberdade frente à repressão de Estados totalitários. O atual grupo Anonymous, conhecido por invadir sites governamentais e de grandes corporações, promovendo protestos pela internet em nome dos direitos humanos e da liberdade virtual, adotou a máscara como símbolo.

Enfim, Guy Fawkes, que fora condenado por traição, assumiu seu lugar na História como alguém que lutou e morreu por um ideal de liberdade. A máscara, que surgiu a partir de um filme, tornou-se a representação de sua identidade e é utilizada por jovens do mundo inteiro na lutas por seus ideais.

 

2 respostas

  1. Muito bem escrito o artigo, apesar da confusão com o nome (digitado ora com w, ora com l). Achei muito interessante o assunto, eu já sabia que a inspiração vinha de um inglês revolucionário mas nunca tinha entendido o porquê desse inglês ser um revolucionário. Também não sabia sobre as “malhações” em relação a ele…

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